Autor: Miguel de Roque Pina
Páginas: 756
Editor: Edições Cosmos
ISBN: 9789727624362
Idioma: Português
Sinopse
As lendas vivas de Portugal deram origem aos nossos maiores anseios e às nossas mais excedentárias apreensões. Previsivelmente, produzimos e imaginamos os nossos mártires, santos, heróis; as nossas irrefletidas e amarguradas efabulações. Daí a lendária Rainha Santa, o desejado Sebastião, a eternidade amantíssima de Pedro e Inês, as truculências pretensamente benévolas de Zé do Telhado. Com a história repleta de sagas por demais evidentes, numa evidência idiossincrásica comprovadamente benigna, jamais deixaremos de projetar o futuro com a aura da nossa própria invencibilidade moral. Alguns, de entre nós, chegam mesmo a encarnar a personificação viva dessa propensão coletiva. Embora muitos dos mitos criados acabem por cair no abismo das contradições abastardadas, outros subsistem ao tempo e à pérfida inglória do esquecimento. Com origem num qualquer subúrbio ou incrementado por nostalgias regionais, o subconsciente popular alberga no seu seio a maioria das lendas e das histórias antigas consignadas a um ideário probo e de regionalismos emergentes, paradigmáticos, quase premonitórios. As oradas nos montes e os nichos às alminhas edificados à beira dos caminhos, desde sempre fizeram um percurso de constâncias pungentes. Recrutados na presciência de um povo desamparado e quase em desespero, vitimizado pela própria vitimização, fomos entretanto erguendo arquétipos inverosímeis provenientes da resiliente sentimentalidade lusitana. Numa perseverança incontida, mágica e de contornos idealistas circunstancialmente esotéricos, continuamos a deambular pelas fímbrias bem delineadas pelo carisma, pelos anseios, pelas apreensões. Não obstante, a história haverá de continuar a escrever-se com a singela e imperativa linearidade de sempre. As lendas, efabuladas ou não, continuarão a confirmar-se pelo tempo fora.